Como abordar o retorno às aulas

Os primeiros dias na creche, jardim de infância, ensino primário, secundário ou superior são ritos de passagem. Esses pontos de ruptura simbólicos permitem que nossos filhos ganhem maturidade e autonomia. Se essas etapas podem ser difíceis de serem vivenciadas por alguns pais, a adaptação ao meio escolar é um elemento fundamental da socialização de uma criança. Na escola, o aprendizado vai além da dimensão acadêmica; as crianças aprendem a interagir com seus pares, outros adultos, e a se confrontar a novas regras. 

O início das aulas representa, geralmente, a oportunidade de sair de casa e reencontrar os colegas de aula. Todavia, o retorno à escola pode induzir uma certa ansiedade. Se os motivos dessas ansiedades variam segundo o nível de ensino e desenvolvimento individual do filho, a necessidade de se readaptar a uma nova dinâmica (novos horários, aulas, professores, colegas ou escola) é um fator significativo de estresse. No contexto atual, as regras de higiene e distanciamento social têm aumentado a ansiedade tanto nas crianças como nos pais. 

Jardim de Infância 

Nesta primeira etapa, a criança não conhece o meio escolar. Além do medo do desconhecido, pais e filhos devem lidar com a angústia da separação. Essa ansiedade é exacerbada quando a criança não foi para a creche. A criança precisará de ser tranquilizada sobre a força do vínculo pais-criança e sua capacidade de se adaptar, sozinha, a um novo contexto. 

A separação progressiva é a melhor maneira de se preparar para o início das aulas. O ideal é levar a criança à escola para conhecer o professor antes do início do ano letivo. Caso a criança não esteja emocionalmente preparada, se pode atrasar o início do ano letivo por alguns meses ou limitar o dia letivo a uma manhã (com o acordo do professor). 

Ensino Primário 

Ao entrar na primeira série, o aprendizado é a principal fonte de ansiedade. A criança pode temer não estar à altura do desafio acadêmico, especialmente se houver uma pressão do tipo “coisas sérias começam com o ensino primário”. Alguns pais podem ser exigentes demais. É importante afastar as próprias vivências, entender as expectativas dos professores e encontrar um equilíbrio entre uma atitude tranquilizadora e a valorização da autonomia. 

Secundário 

A entrada no secundário marca o início da adolescência e representa uma grande fonte de ansiedade para o pré-adolescente. Além de perder o status de “maior” no primário e se tornar o “menor” no secundário, o adolescente deve se acostumar a ser mais organizado e autônomo. Trata-se igualmente de um momento de grandes mudanças corporais. Junto a essa reviravolta física e psicológica, chega a hora das primeiras descobertas amorosas, mas também das primeiras tentações: consumo de substâncias psicoativas, faltar à escola, etc. 

É importante ter em mente que o (pré-) adolescente esta se tornando um adulto. Essa fase é definida pela construção de uma nova identidade, tendendo a se diferenciar dos pais. O espaço pessoal do adolescente é essencial nesse processo. Por exemplo, eles podem não gostar que os pais os levem até o portão da escola. Se é fundamental respeitar essa ânsia de liberdade, é importante fomentar o diálogo franco. O respeito deve ser mútuo e as regras devem ser co-construídas para responsabilizar o futuro adulto. 

Conselhos para os pais 

Escutar as preocupações dos filhos sem julgamento 

A escuta é a principal ferramenta para ajudar o filho a superar o estresse. O diálogo permite verbalização e identificação dos medos, podendo aliviar a tensão que o filho sente. Ouvir a preocupação sem minimizar a vivência do seu filho fortalecerá vossos vínculos. 

Estabelecer ritmos saudáveis 

É muito importante que a criança tenha horas de sono suficientes para ter energia na escola. Muitas crianças reprovam por estarem cansadas e não conseguirem manter a concentração. Planejar o horário de dormir lhe dará uma sensação de estabilidade. 

Não sobrestimar a importância da vida escolar 

É claro que a escola é um pilar fundamental na vida de uma criança, mas existem outros igualmente importantes: seu equilíbrio emocional, seus passatempos, seus relacionamentos, etc. Modificar todos os hábitos por conta do início das aulas dará uma imagem negativa à escola. 

Responsabilizar seu filho pela sua trajetória escolar 

Mostre interesse na educação de seu filho, mas não se preocupe com os deveres de casa mais do que ele. Contente-se em dar conselhos e não faça o dever no lugar dele. É fundamental que ele se sinta responsável pelo seu próprio trabalho. 

Psicólogo  
Felipe Fernandes Patury 

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