O brasileiro Dr. Evandro de Azambuja é o coordenador da equipe oncológica
Neste mês de outubro não poderíamos deixar de falar sobre o Outubro Rosa, um movimento que visa conscientizar mulheres e homens no mundo todo sobre a prevenção do câncer de mama através do diagnóstico precoce.
O Instituto Jules de Bordet está localizado em Porte de Hal, em Bruxelas, perto do Hospital Universitário Saint-Pierre e é inteiramente dedicado à prevenção, tratamento e pesquisa no campo da oncologia. Em conjunto com o Breast International Group, o Instituto Jules Bordet contribuiu de forma pioneira nos principais estudos que trouxeram o uso de terapias anti HER2 para a prática clínica como a condução dos estudos HERA e APHYNITY, que levaram à aprovação dos medicamentos mundialmente conhecidos: Trastuzumab adjuvante e da combinação de Trastuzumab + Pertuzumab adjuvante, respectivamente.
A classificação do câncer de mama depende, entre outros fatores, de onde ele se originou, de sua extensão, de seu potencial de agressividade, da presença ou não de receptores hormonais que fazem com que determinado hormônio (estrogênio e/ou progesterona) potencialmente estimule o crescimento do tumor, e da presença em quantidade aumentada ou não da proteína HER2, que estimula o crescimento do tumor. É exatamente este conjunto de características que explica o fato de duas mulheres com câncer de mama não seguirem necessariamente o mesmo plano de tratamento, pois existem estratégias específicas para o tratamento de cada tipo específico de câncer de mama.
O tratamento com anticorpos contra a proteína HER2 (terapia-alvo) já está bem estabelecido e constituiu um importante avanço no tratamento das pacientes cujos tumores expressam em quantidade aumentada essa proteína (classificados como tumores HER2 positivos). Durante esse tratamento, a paciente recebe injeções de anticorpos que bloqueiam a proteína HER2, interrompendo o crescimento tumoral.
O Dr. Evandro de Azambuja está na Bélgica há mais de 15 anos. Ele também é colaborador da AB.classificados na coluna de saúde, e vai nos esclarecer mais sobre esse assunto do estudo do qual é participante ativo.
AB.classificados – Na prática, como se aplica os resultados do estudo HERA, que vocês ajudaram a desenvolver?
Dr. Evandro de Azambuja – O Estudo HERA demonstrou que a combinação da terapia anti-HER2 com o tratamento tradicional do câncer de mama (Cirurgia + Quimioterapia + Radioterapia), diminui em 50% as chances de o tumor retornar em pacientes com câncer de mama HER2 positivo. É possível também administrar o tratamento anti-HER2 associado à quimioterapia antes da cirurgia, com a intenção de reduzir o tamanho do tumor para a cirurgia de retirada do mesmo.
AB – Quais foram as evoluções no tratamento deste tipo de câncer de mama (HER2 positivo) desde o estudo HERA?
Dr.Evandro de Azambuja – Atualmente com estratégias mais modernas de tratamento anti-HER2, aproximadamente 60% das pacientes atingem o que definimos como resposta patológica completa (ausência de tumor no momento da cirurgia). Devido aos ótimos resultados observados no tratamento do câncer de mama HER2-positivo (cerca de 93% das pacientes permanece sem recidiva em 3 anos), estuda-se também, nos dias de hoje, se algumas pacientes poderiam se beneficiar de um tratamento menos agressivo (com menos quimioterapia e principalmente focado no bloqueio HER2), o que chamamos de descalonamento/ individualização de tratamento. O Instituto Jules Bordet está envolvido também em futuros estudos focando em descalonamento de tratamento.
Pacientes oncológicos de todas as partes do mundo vêm em busca de tratamento para o câncer nesse hospital devido aos excelentes resultados na cura do câncer, principalmente no caso do câncer de mama.
A equipe do Dr. Evandro de Azambuja também participa no estudo da imunoterapia para o tratamento do Câncer de Mama Triplo Negativo
O Hospital Jules de Bordet e sua eficiente equipe de oncologia novamente estão ativamente envolvidos em um novo tratamento promissor: a imunoterapia para o câncer de mama triplo negativo.
A imunoterapia no câncer de mama triplo negativo será um dos temas discutidos no Congresso Internacional de Oncologia organizado pela Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO) na cidade de Barcelona, Espanha, no princípio deste mês de outubro.
Trata-se de um importantíssimo estudo que visa aumentar as chances de cura das pacientes com câncer de mama triplo negativo. Quem nos explica isso é a Dra. Maria Alice B Franzoi, médica oncologista formada pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre, atualmente trabalhando como medical research fellow – no CTSU, Hospital Jules Bordet desde abril/2019 sob a supervisão do dr. Evandro de Azambuja.
“Recentemente, uma nova estratégia apresenta resultados promissores para o tratamento do câncer. Trata-se da imunoterapia, modalidade que estimula o sistema imunológico do paciente a reconhecer e combater as células do câncer. Quando usamos a imunoterapia, deixamos nossas células de defesa mais alertas e ativas aumentando a nossa própria capacidade de atacar um componente externo ou estranho, neste caso, o câncer. Os efeitos colaterais dessa modalidade de tratamento são diferentes dos tradicionais observados com a quimioterapia. Geralmente são medicamentos bem tolerados, e os efeitos colaterais geralmente associados à quimioterapia (queda de cabelo, náuseas, vômitos, queda da imunidade) não costumam ocorrer. Esta modalidade de tratamento revolucionou o tratamento de alguns tipos de câncer altamente agressivos, para os quais havia poucas opções de tratamentos efetivos disponíveis, como é o caso do melanoma e do câncer de pulmão, por exemplo.
No câncer de mama, a imunoterapia tem sido estudada principalmente no subtipo triplo-negativo. O nome “triplo-negativo” refere-se ao fato deste tipo de tumor não apresentar nenhum dos três marcadores mais utilizados na classificação do câncer de mama. São eles: receptor de estrogênio, receptor de progesterona e expressão de proteína HER-2. Essa característica limita as opções terapêuticas em uso atualmente para o câncer de mama, e para pacientes com este tipo de tumor não são eficazes os tratamentos anti-hormonais e anti-HER2. Por isso, a imunoterapia se apresenta como uma grande promessa. Recentemente, a combinação de imunoterapia com quimioterapia se mostrou eficaz para este grupo de pacientes. No momento, o Instituto Jules Bordet participa ativamente na investigação da imunoterapia complementar por 1 ano após cirurgia + quimioterapia do câncer de mama triplo negativo (Estudo IMpassion030), e os resultados do uso da imunoterapia administrada antes da cirurgia para pacientes com câncer de mama triplo negativo serão em breve apresentados no congresso da Sociedade Europeia de Oncologia”.
Por Tatiana do Amaral