Demora no atendimento do consulado português em Bruxelas irrita a comunidade luso
O sistema de marcações prévias instaurado no consulado de Portugal em Bruxelas no ano de 2015 para atender a população portuguesa residente na Bélgica não reduziu as filas de espera. Já na época essa mudança preocupou muito a comunidade.
Quatro anos se passaram e o problema não só continuou como, em alguns casos, como a emissão de passaporte, piorou. Atualmente, o tempo de espera para ser atendido é de dois meses.
O número de portugueses que residem na Bélgica ultrapassa os 60 mil, similar ao número de brasileiros que também residem no país; e este grande número de imigrantes dificulta o rápido atendimento no consulado, já que o quadro de funcionários é muito pequeno. Eles se organizam como podem para responder os e-mails, atender ao telefone e ao público.
Miguel Coimbra, 36 anos, natural de Viseu-Portugal, formado em engenharia informática, trabalha na empresa Salesforce e é residente na Bélgica há 22 anos. Ele nos contou como foi sua experiência quando precisou recorrer ao consulado português para renovar seu passaporte por motivos de trabalho:
“Eu fui recentemente vítima desta mudança, tive que renovar meu passaporte com urgência por motivos profissionais. Meu passaporte expira em dezembro deste ano, mas minha viagem a trabalho é para o Brasil e o país não aceita viajantes com passaportes com data de expiração dentro de seis meses da estadia. Após esperar na fila, fui informado que eu precisaria demostrar um comprovante de viagem, ou seja, a passagem aérea, retornar no outro dia antes das 8h, sem nenhuma garantia se conseguiria emitir meu passaporte a tempo. Depois de dois dias, finalmente consegui obtê-lo. Gostaria também de mencionar que somos obrigados a esperar algumas vezes em pé, não há eletrônicas para os casos urgentes, mas seria injusto não prestar minha singela homenagem aos funcionários portugueses por conseguirem trabalhar nessa precária situação”, explica Miguel Coimbra.
Conselheiro das comunidades portuguesas na Bélgica, Pedro Rupio nos explica quais foram os impactos causados por esta mudança
Pedro Rupio, 35 anos, nasceu na Bélgica, filho de portuguesa, exerce a função de conselheiro das comunidades portuguesas desde o ano de 2008 e também trabalha no departamento de comunicação de uma instituição financeira. Pedro nos conta que a crise econômica em Portugal no ano de 2008 foi grave e afetou a rede consular portuguesa no mundo todo: países como Brasil, Reino Unido, França e Estados Unidos também sofrem com o mesmo problema, porém na Bélgica o caso é mais grave.
“O consulado de Antuérpia fechou as portas por volta do ano de 2012, o consulado de Liège também deixou praticamente de funcionar. Resumindo, ficou apenas um órgão público para atender a todas essas 60 mil pessoas. O quadro de funcionários até essa mudança em setembro de 2015 era de cinco funcionários, agora, somente três.
Em caso de emergência é complicado, também há informações que muitos portugueses preferem deixar para resolver seus assuntos quando vão de férias a Portugal devido a longa espera aqui, mas isso não resolve o problema, apenas diminui discretamente a fila de espera.
A flexibilidade que existia para atender assuntos de emergências já não existe e a embaixada está encaminhando para a citas previas.
Concluindo, enquanto não houver um reforço nos recursos humanos, não haverá melhora.
Com a recuperação econômica que observamos em Portugal esperamos que haja um investimento na rede consular portuguesa para resolver essa situação”, finaliza Pedro Rupio.
Por Tatiana do Amaral