ONG brasileira Raiz Mirim realiza projeto social e oferece acompanhamento psicológico em Bruxelas
Nos consultórios médicos espalhados pelo mundo, milhares de pessoas vão pedir socorro diariamente. Elas sofrem de angústia, ansiedade, melancolia, entre outras dores profundas causadas pela própria mente.
Segundo um estudo publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), pelo menos 30% da população mundial sofrerá algum episódio de depressão ao longo da vida. Hoje, mais de 300 milhões de pessoas são afetadas pela depressão, e quando dura muito tempo ou sua intensidade vai de moderada ou grave, pode se tornar um problema sério de saúde, afetando a produtividade do paciente no trabalho, na escola e na família. Este estudo também revela que depressão não escolhe idade nem classe social, mas é comum entre o final da adolescência e os vinte e poucos anos. Na população adulta, um a cada 15 indivíduos é deprimido.
Os próprios médicos, quando ouvem as aflitas confissões de seus pacientes, sentem-se também um pouco angustiados, pois sabem que depois do tratamento, muitos voltarão ao consultório, desta vez atingidos pelo outro lado da doença: os vícios nos remédios, os psicotrópicos. O que surpreende médicos e especialistas que atuam no combate à enfermidade é o contingente de jovens e adolescentes em tratamento intensivo.
ONG brasileira Raiz Mirim oferece serviços sociais para ajudar a comunidade
O que muitos brasileiros não sabem é que aqui em Bruxelas existe um importante centro de apoio social destinado para eles: a Raiz Mirim é uma ONG fundada por brasileiros com o objetivo de ajudar a comunidade. Ali, são realizadas atividades educacionais, culturais, sociais, de acolhida, apoio, treinamento e informação. Os projetos da associação são criados por meio de vários tipos de iniciativas, como o aconselhamento e apoio psicológico, destinado a todas as idades; serviço social; cursos de idiomas para adultos; oficinas culturais para as crianças, etc. A Raiz Mirim leva em consideração que há uma necessidade frequente de apoiar as famílias, respeitando a diversidade característica das comunidades locais brasileiras.
O psicólogo brasileiro Ricardo Torezani faz parte desse projeto social e nos concedeu uma entrevista:
AB.classificados – O que pode desencadear uma depressão?
Ricardo Torezani – Não há uma causa única para ocasionar um quadro depressivo. Os fatores desencadeadores da depressão estão fortemente ligados ao histórico social e familiar da pessoa. Quanto mais restrita for a sua vida social, quanto menos interações você estabelecer e quanto menos convívio familiar, maior será a possibilidade de este indivíduo desenvolver uma depressão. Normalmente, o estresse e a ansiedade associados a algumas disfunções hormonais e traumas psicológicos também são agentes desencadeadores da depressão, além, é claro, do uso abusivo do álcool e outras drogas.
AB.classificados – O que difere tristeza de depressão?
R T – A tristeza é um sintoma da depressão, entretanto, sentir-se triste não é o mesmo que estar deprimido! O sentimento de tristeza é importante na nossa vida, significa que nos importamos com o que acontece conosco e ao nosso redor. Alguém que não se entristece é alguém que não tem compaixão! Entretanto, a tristeza saudável é aquela que surge em momentos pontuais, diante da morte de alguém querido, por exemplo, e que passa, se transforma em recordação, saudade, nostalgia, mas passa. A tristeza da depressão aparece sem um motivo óbvio, ela se estabelece e permanece mesmo em momentos que deveriam sugerir alegria. A tristeza depressiva é aquela que paralisa e desmotiva.
AB.classificados– Como podemos reconhecer os sintomas para ajudar a pessoa que está deprimida?
R T – Não é muito simples para grande parte das pessoas do senso comum reconhecer os sintomas da depressão. Erroneamente, muitos costumam avaliar os comportamentos depressivos como “frescura”, “preguiça”, “falta de força de vontade”, etc. Pois ainda hoje há muito preconceito e desinformação sobre essa doença. Alguns sintomas físicos podem ser observados com mais facilidade, como a perda ou ganho de peso acentuado sem que a pessoa esteja fazendo uma dieta; agitação ou lentidão dos movimentos; aumento ou diminuição de apetite; insônia ou excesso de sono. Em alguns casos mais graves, a pessoa deprimida pode até mesmo ter ideias de morte, chegando a tentativa ou planejamento de suicídio.
AB.classificados– Por que as pessoas ainda se sentem sozinhas, já que vivemos na era digital, rodeados de redes sociais e ferramentas de comunicação?
R T – O prazer em exibir-se tomou proporções assustadoras nas redes sociais, criamos personagens alimentados por “likes” e esses seres imaginários que apresentamos nas redes muitas vezes são utilizados para esconder nossas verdadeiras angústias, medos e solidão, pois aquele com quem eu me comunico na internet não é mais importante que o coraçãozinho que ele deixou em meu último comentário. É outro fenômeno da atualidade, a “amizade útil”, a “objetificação” das pessoas e o exibicionismo! A cultura do utilitarismo faz com que eu me relacione com alguém até o dia em que ela não me serve mais, o outro se torna meu objeto de prazer de onde eu tiro benefícios para minha vida! Mas a vida acontece “off-line”, é aqui no chão da realidade que precisamos agir e nem todos estão dispostos a enfrentar.
Mariana Cardoso, 38 anos, natural de Santa Catarina e residente em Bruxelas há 12 anos, luta contra a depressão faz quatro anos. Ela nos faz um desabafo e relata como é viver com a depressão:
“Depressão não é frescura, não é falta de Deus, como certas pessoas dizem. Eu me sinto completamente desgostosa da vida, e a dor chega a ser tão forte que às vezes os pensamentos negativos como os de suicídio rondam a minha cabeça, porque a dor que sinto é tão grande que em um ato de desespero isso parece a solução mais rápida para parar essa dor”.
O médico brasileiro Dráuzio Varella, em uma entrevista para o Fantástico, falou sobre depressão na série ‘Não tá tudo bem, mas vai ficar”. Ele definiu a depressão como: “Uma alteração da química do cérebro que distorce a forma de pensar e sentir as emoções”, e ressaltou também que estudos recentes mostraram que os hormônios do estresse também prejudicam o equilíbrio químico dos neurônios, a ponto de reduzir o tamanho do hipocampo, uma estrutura do cérebro que constrói a memória e controla as emoções.
Depressão é doença.
Contato: ONG Raiz Mirim
Núbia Almeida: 0492/872.657
(atendimento com hora marcada)
Por Tatiana do Amaral