Os desafios e passos para integração
A migração para um país distante do Brasil apresenta desafios notáveis, especialmente no que diz respeito à integração dos brasileiros na Bélgica. Muitos expatriados enfrentam dificuldades para estabelecer conexões significativas com os locais, perdendo valiosas oportunidades de compreender a cultura e adaptar-se à nova realidade.
Segundo Giseuda Silva Vercammen, chef de Gastronomia da Festa Mania, residente na Bélgica desde 1998, a falta de investimento na aprendizagem das línguas locais, especialmente o francês e o neerlandês, representa um desafio significativo. “Conhecer as línguas não é crucial apenas para a comunicação cotidiana, mas também para compreender nuances culturais e históricas, contribuindo para uma maior inserção na sociedade belga”, ressaltou.
Giseuda destaca ainda que muitos brasileiros chegam à Bélgica desprovidos de conhecimento sobre a legislação local, os direitos básicos e aspectos essenciais da vida cotidiana, como o sistema educacional. A falta de familiaridade com esses aspectos pode resultar em isolamento social, deixando os imigrantes alheios às práticas e normas do país anfitrião.
O relato de Giseuda sublinha a importância de um processo estruturado de integração, incluindo o domínio linguístico, compreensão da legislação, familiaridade com a política e absorção de conhecimentos sobre história e cultura locais. Esses passos são considerados cruciais para um entrosamento bem-sucedido e uma qualidade de vida mais plena.
Quando o estrangeiro chega a um país, desconhece hábitos, costumes, leis e até os benefícios dos quais pode usufruir para melhorar sua permanência na nova localidade. Denis Vercammen é casado com Giseuda (Festa Mania) e lembrou que muitos brasileiros, quando chegam a Bruxelas, moram em Saint-Gilles, onde a comunidade brasileira é grande e, às vezes, eles passam anos convivendo entre si e não buscam aprender outro idioma. “Isso faz com que este migrante conheça pouco sobre o país que escolheu para viver. Ele frequenta cafés de brasileiros, restaurantes, serviços e vive sua vida sem interagir com o nativo do lugar o que dificulta o conhecimento mais amplo”, disse.
Para Denis, é preciso que o estrangeiro deixe um pouco a comunidade em que vive e passe a conhecer os benefícios que existem no dia a dia de Bruxelas, como o transporte urbano mais barato nos finais de semana para outras cidades, museus e os diversos restaurantes com comidas belgas. “É preciso ser mais assertivo e não se alienar muito. Conhecer leis e direitos é aprendizado do dia a dia com pessoas de seu próprio país. Às vezes, até mesmo os belgas sabem pouco do que é oferecido ao estrangeiro, mas isso vai se aprendendo no convívio com alguém que se beneficiou deste maravilhoso país, que é a Bélgica.”
Nem sempre o imigrante é visto como indesejado em uma nação e o exemplo disso é a grande comunidade brasileira em Bruxelas. “Conheço muitos brasileiros, mas eles conhecem pouco sobre os pratos típicos dos belgas, o que nós gostamos de comer. Muitos brasileiros saem pouco de casa, não visitam parques e museus, galerias de artes e pinturas que ajudam a interação com outras culturas. Alguns nem estudam a nossa língua e isto faz com que fiquem alienados em suas casas. Não leem jornais, não assistem à televisão belga. Isso dificulta a integração”, afirmou Denis Vercammen.
Eles também destacam o desconhecimento dos noticiários e programas de televisão locais como um obstáculo à integração. O acesso limitado às informações sobre o contexto belga pode agravar a sensação de isolamento, impedindo que os imigrantes compreendam plenamente o ambiente em que vivem e trabalham.
O brasileiro precisa entender que, em toda cidade que ele escolhe para mudar, é preciso se cadastrar. “É preciso informar, dizer ‘cheguei, estou aqui’. Tem comunas que oferecem cursos de integração. Você passará alguns meses entendo as leis da Bélgica, os direitos e compreendendo mais sobre deveres e conhecimento do país”, disse ela, lembrando que os centros culturais propiciam uma maior integração. “Lá todos podem assistir às peças de teatro, aos cursos de dança, de culinária, pintura, jardinagem e infantis para nossas crianças. Ali a gente conversa com outros pais e o preço é bem baixo o que permite aprender até a tocar instrumentos. É válido buscar os folhetos com a programação anual. É muito bom.”
A Angela Piqui Magazine ressalta a necessidade de uma abordagem abrangente para a integração dos brasileiros na Bélgica, enfatizando que o aprendizado linguístico é apenas o começo. “A compreensão da legislação, política, história e cultura belgas não só facilita a comunicação com os nativos, mas também promove uma adaptação mais profunda e enriquecedora à vida no país europeu onde se vive.”